ESG, equidade de gênero e o caminho sem volta

Artigo - Elaine Turatti

Por: Elaine Turatti.

A agenda ESG tem, ao longo da última década, reformulado os critérios com os quais se avalia a sustentabilidade e a resiliência das organizações. O componente “S”, muitas vezes ofuscado pelo debate climático, ganha força crescente ao colocar as pessoas no centro das decisões. Nesse contexto, a equidade de gênero, refletida especialmente no ODS 5 da Agenda 2030 da ONU — “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas” –, torna-se um tema estratégico e inadiável para empresas e instituições comprometidas com inovação, governança inclusiva e responsabilidade social.

Contudo, observa-se o surgimento de um movimento de resistência ao ESG, especialmente em setores econômicos e políticos nos Estados Unidos e na Europa. Essa reação, conhecida como anti-ESG, contesta o que seria, para seus críticos, uma agenda ideológica ou uma imposição de valores que desviaria o foco do retorno financeiro. Empresas como BlackRock e Vanguard, que até recentemente eram expoentes da pauta, passaram a adotar posicionamentos mais cautelosos, sinalizando ajustes diante de pressões de acionistas e ambientes regulatórios adversos.

Ainda assim, seria equivocado interpretar esse recuo como um retrocesso generalizado. Na verdade, ele evidencia a complexidade do momento atual: enquanto algumas organizações tentam reequilibrar discurso e prática, outras seguem avançando com firmeza, conscientes de que diversidade e inclusão não são apenas compromissos éticos, mas fatores de geração de valor. Um estudo da McKinsey & Company. (2020) revelou que empresas com maior diversidade de gênero em cargos de liderança têm 25% mais probabilidade de apresentar lucratividade acima da média de seus setores, percentual que sobe para 48% entre as mais diversas.

O que está em jogo não é apenas reputação ou alinhamento institucional com tendências globais. Trata-se de reconhecer que a inclusão de mulheres, sobretudo em posições de liderança, promove ambientes mais colaborativos, melhora a gestão de riscos, amplia a capacidade de inovação e fortalece o vínculo com consumidores e investidores. Para setores tradicionalmente masculinizados, como o financeiro, isso exige rever estruturas, combater vieses inconscientes e promover políticas efetivas de equidade.

O Brasil, embora enfrente desafios estruturais, tem dado sinais promissores. A Lei 14.611/2023, que trata da igualdade salarial entre homens e mulheres, e o avanço de programas de equidade em empresas públicas e privadas indicam que há vontade política e institucional para impulsionar mudanças. Ainda assim, a presença feminina em conselhos e diretorias segue baixa, exigindo metas, métricas e monitoramento contínuo.

Neste contexto, importantes movimentos se destacam no setor de previdência complementar fechada. Um deles é o lançamento da obra pioneira “Mulheres na Previdência Complementar: Edição Poder de uma História – Volume 1”, da Editora Leader, com lançamento previsto para 02/09/25. A publicação reúne trajetórias inspiradoras de profissionais do setor e marca um avanço simbólico e concreto na valorização da liderança feminina. Paralelamente, um grupo criado via WhatsApp, hoje com quase mil mulheres atuantes na área, tornou-se um espaço ativo de troca e fortalecimento mútuo entre as mulheres do setor.

Outro marco relevante é a primeira pesquisa sobre a participação feminina na previdência complementar fechada, conduzida pela Secretaria de Regime Próprio e Complementar (SRPC) do Ministério da Previdência Social, em parceria com a ABRAPP. O resultado será divulgado ao público no final deste mês de maio. Esses e outros movimentos mostram que a pauta é relevante, está em expansão e vem sendo cada vez mais discutida.

Neste cenário de contrastes entre avanço e resistência, progresso e reação, é essencial reconhecer que a pauta ESG, especialmente no que diz respeito à equidade de gênero, não é modismo nem imposição, mas um imperativo civilizatório. As empresas que compreendem isso não apenas mitigam riscos regulatórios e reputacionais, mas se posicionam como líderes de uma nova economia: mais justa, diversa e preparada para os desafios do século XXI.

Equidade de gênero não é apenas justiça social; é estratégia inteligente de negócios. Apesar das turbulências no percurso, esse é um caminho sem volta.

Referências:

  • Elaine Turatti

    Elaine Turatti é advogada e mestranda em Governança Corporativa. É diretora de serviços jurídicos e regulatórios na PFM Consultoria, membro da Comissão de Previdência Privada da OAB/SP, colaboradora do IPCOM. É Diretora Administrativa da ANESPP.

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